O novo ciclo de investimentos inaugurado pelos NFTs

Em março, foi aberta, em Nova York, a primeira galeria de arte dedicada exclusivamente a obras de arte digitais comercializadas como NFTs. Em 2021, os Non-Fungible Tokens têm tomado os noticiários, e tantos curiosos com o avanço tecnológico como amantes de arte estão impressionados com a maneira com que a tecnologia avança sobre uma área reconhecida por seu teor clássico e tradicional: os museus.


O NFT é principalmente um tipo de protocolo de segurança, que através de um blockchain funciona como um registro de coleções digitais, ou seja, o sistema opera como uma digital que identifica e autentica objetos físicos e virtuais validando sua posse e permitindo-lhes a venda. Ou, em poucas palavras, a tecnologia que dá vida aos NFTs usa o Blockchain para que obras de arte digitais sejam vendidas ou leiloadas em mercado.


Non-Fungible Tokens, como o nome sugere, não podem ser divididos; tampouco multiplicados. Quem adquire um NFT ganha um certificado de autenticidade inviolável, já que, tal como ocorre com o Bitcoin, a tecnologia Blockchain garante a integridade do ativo a quem o detém, sem que isso exija atividade reguladora por parte de agências, empresas ou governos. 


E também como as criptomoedas (algumas, como o Ether, são inclusive moeda de compra dos NFTs), a compra e venda desses colecionáveis ganha intenso caráter especulativo, atraindo, como o Bitcoin, um mercado de investimentos bilionários. A razão para isso é simples: se engana quem acha que um NFT, para se valorizar, precisa ter sido criado por um Van Gogh ou por uma Tarsila. Até mesmo arquivos .jpeg gerados automaticamente pelo Windows já serviram como tokens para a especulação.


Na verdade, o passado recente do NFT revela toda sorte de casos curiosos que apontam para seu potencial e para sua natureza verdadeiramente atraente a investimentos. Em sua origem, o NFT servia de forma muito semelhante a um jogo de cartas colecionáveis: um sistema gera uma série de objetos, alguns comuns, outros mais raros, estes sendo disputados por consumidores.


É o caso dos CryptoKitties, um sistema elaborado em 2017 e que se tornou popular ao gerar imagens de pequenos gatos completamente exclusivos, que podem ser transferidos e leiloados de acordo com sua raridade. Podem, até mesmo, ser cruzados, gerando novos NFTs, ou seja, novos gatinhos ainda mais raros e caros. Pode soar como algo simples ou até bobo, mas o sucesso estrondoso dos CryptoKitties reuniu um time poderoso de desenvolvedores e ainda revelou o enorme potencial dos NFTs e do Blockchain como um mercado atrativo e seguro. A diferença fundamental para o fenômeno de hoje é, evidentemente, os estrondosos valores de comercialização que os criptoativos têm alcançado: o NFT mais valioso custa, atualmente, US$69 milhões.


Como os NFTs deixaram de ser um brincadeira e passaram a ser reproduzidos em telões de galerias de arte em Nova York? A segurança para a especulação, a possibilidade de ascender obras até então desconhecidas e o caráter democrático dessa nova forma de circulação de arte encanta amantes da tecnologia, do mercado financeiro e da cultura. Sobretudo quando esse encanto é, inclusive, capitaneado por figuras muito midiáticas, como o casal Elon Musk e Grimes: esta, inclusive, conhecida vendedora de artes digitais na forma de NFTs.


Resta, portanto, a investidores e a curiosos mais apaixonados, a necessidade de acalmar um pouco os ânimos e prestar atenção a esse caráter altamente especulativo do novo ciclo de investimentos inaugurado pelos NFTs. Criptoativos e Blockchain são ferramentas seguras e que vieram para ficar, e o convívio com a especulação exige que atualizemos nossos cuidados. A tecnologia pode levar mesmo a arte a novos horizontes, mas é preciso, sempre, cautela.


Marco Jardim | Head de Tecnologia (Blockchain) da Investtools




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